Disparada de apreensões de canetas emagrecedoras no Galeão faz PF realizar operação
O número de canetas de emagrecimento apreendidas pela Receita Federal, no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), na Ilha do Governador, Zona Norte da cidade, cresceu 314% em um ano, de acordo com dados da Receita Federal.
Em 2024, foram 63 unidades apreendidas por auditores fiscais. Em 2025, até esta terça-feira (21) foram 261 apreensões.
Nesta terça-feira (21), a Polícia Federal cumpriu três mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal. Foram dois mandados na Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste do Rio de Janeiro, e um em São Gonçalo, na Região Metropolitana.
A investigação começou a partir de uma denúncia da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de que um servidor estava desviando canetas para emagrecimento que tinham sido apreendidas no Aeroporto do Galeão.
A Polícia Federal identificou que em fevereiro de 2025, o marido de uma médica que vinha da Itália tentou entrar no Brasil pelo Aeroporto do Galeão com 80 canetas, sem receita médica.
Os medicamentos foram apreendidos pela Receita Federal e levados para o depósito da Anvisa, que fica no aeroporto.
O RJ2 apurou que um despachante entrou em contato com o servidor e ofereceu R$ 10 mil em troca das canetas apreendidas.
Em julho, os medicamentos começaram a desaparecer. No mês seguinte, em 1º de agosto, o servidor José Vieira de Souza Filho foi preso no estacionamento do aeroporto com as canetas na mochila. A reportagem procura pela defesa do servidor da Anvisa.
José Vieira de Souza Filho, servidor da Anvisa, preso pela Polícia Federal em agosto de 2025
Reprodução
Os investigados poderão responder pelos crimes de importação e venda de medicamento de procedência ignorada, bem como receptação qualificada.
A Anvisa afirmou que o servidor está afastado das funções desde agosto de 2025 e que ele responde a um processo administrativo disciplinar, além do processo judicial.
A Anvisa ainda destacou que em nenhum dos casos de apreensão é possível garantir as condições de conservação desses medicamentos. A agência ainda faz um alerta para que a população só compre as canetas de emagrecimento em farmácias e drogarias. Estes são os únicos lugares autorizados a comercializar medicamentos.
Qualquer produto vendido fora desses locais está irregular, explica a Anvisa em nota.
Nas redes sociais, o medicamento é vendido livremente. Até em frascos.
Parte dos medicamentos apreendidos pela PF e suspeitos de terem sido desviados pelo servidor da Anvisa do aeroporto
Divulgação/PF
No Brasil, as canetas para emagrecimento só podem ser vendidas com receita médica, com validade de até 90 dias, a partir da data de emissão.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Karen de Marca diz que o uso descontrolado desse produto tem preocupado os médicos:
“Tem uma indicação principal, que é você ter obesidade, diabete tipo 2 ou sobrepeso com algum tipo de comorbidade. É muito arriscado quando uma pessoa não passou por essa avaliação fazer uso de uma medicação que não foi prescrita para o fim que ela deseja. É uma busca pela estética e o que pode acontecer? Você pode realmente ter uma desidratação, um quadro de desidratação grave. A gente pode ter ocorrência de vômitos, dores abdominais e algum tipo de efeito em nível de fígado ou até mesmo em nível de coração, porque essa pessoa fez a utilização de uma medicação que realmente não foi avaliado antes o uso”.
Para a médica, o uso desenfreado pode levar a uma epidemia:
“A gente hoje em dia tem se preocupado desse uso dessa medicação de forma descontrolada levar a uma epidemia quase que de anorexia, de transtornos alimentares, de alterações da imagem corporal. Todo mundo quer ficar magro. A gente tem ficado preocupado com a dependência do uso da medicação”.
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