
Hotel Blue Tree Paulista
Reprodução
Sophie*, uma advogada americana, denunciou ter sido estuprada por um funcionário do hotel Blue Tree em São Paulo, em 27 de setembro do ano passado. Mais de um ano após o crime, ela ainda sofre as consequências, tomando medicação para ansiedade e depressão.
Em abril, o homem foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e se tornou réu pelo crime de estupro. O Tribunal de Justiça agendou uma audiência para janeiro de 2026, na 11ª Vara Criminal do Foro Central Criminal Barra Funda.
O caso foi divulgado pela “Folha de S.Paulo” e confirmado pelo g1, que teve acesso ao inquérito policial e à denúncia MP-SP.
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A defesa do réu afirma, no processo, que o ato sexual foi consensual. Em nota, os advogados representantes da rede hoteleira afirmaram que não compactuam “com qualquer conduta imprópria eventualmente praticada nos seus empreendimentos” e que o processo tramita em segredo (leia na íntegra abaixo).
Violência contra mulher: como pedir ajuda
Segundo a advogada da vítima, Maria Tereza Novaes, Sophie veio ao Brasil a trabalho e se hospedou na unidade Paulista, localizada na Rua Peixoto Gomide, por alguns dias. No último dia da viagem, uma sexta-feira, ela não queria sair para jantar e optou por comer no quarto.
Ao tentar ligar para a recepção, não conseguiu fazer o pedido, pois o recepcionista não falava inglês. Por isso, desceu até a recepção para solicitar o jantar e uma garrafa de vinho.
De acordo com a declaração de Sophie, anexada nos autos, um funcionário do bar, de 19 anos, se ofereceu para acompanhá-la até o quarto, levando o vinho. Chegando ao cômodo, ele partiu para cima americana.
O funcionário do hotel de repente me abraçou e me beijou enquanto eu ainda segurava a taça de vinho que havia trazido do bar. Ele se tornou muito agressivo comigo e eu lhe disse ‘não’ enquanto lutávamos.
Em seguida, ela relatou que o funcionário a empurrou para a cama, levantou sua saia e a estuprou, mesmo com as diversas negativas e tentativas de se desvencilhar.
“Não consegui me libertar dele devido à sua força. Como resultado dessa agressão, fiquei com hematomas visíveis nos braços. Após a agressão, o funcionário do hotel deixou meu quarto.”
Imagens de câmeras de segurança do hotel registraram que a entrada do suspeito no quarto da vítima. Ele permaneceu lá por cerca de nove minutos, saindo em seguida, aparentemente ajeitando suas roupas, segundo o inquérito.
Logo depois, Sophie enviou uma mensagem de texto ao seu diretor — que também participava da viagem — contando sobre a violência sexual. Ele foi ao hotel acompanhado de uma colega que fala português e chamou a polícia.
Segundo a vítima, a equipe do hotel se recusou a prestar assistência e a acionar as autoridades.
O diretor da vítima também confirmou, em declaração anexada aos autos, que “os membros do staff se recusaram a prestar qualquer assistência e disseram que ‘não podiam chamar a polícia'”.
No dia seguinte, a americana embarcou de volta para casa, no Kansas, e tirou cinco semanas seguintes de folga do trabalho por causa do trauma. Ela ainda ficou internada 26 dias em uma clínica psiquiátrica.
“Até hoje continuo sob os cuidados de um terapeuta e de um médico, ambos monitorando minha saúde mental e física geral”, desabafou.
O laudo sexológico do Instituto Médico Legal, realizado no Hospital Pérola Byington, apresentou resultado positivo para presença de espermatozoide na região vaginal e anal. Também foi constatada lesão corporal leve nos braços e na perna.
O que diz o réu
Nos autos, a defesa do funcionário — representado pelos advogados Gabriel Constantino e Luís Gabriel Vieira — confirma que houve relação sexual, mas sustenta que foi consensual “desde o início até o fim”.
O réu contou aos advogados que, naquela noite, trabalhava no bar do hotel, quando Sophie apareceu por volta das 21h. Após pedir o vinho, ela teria o convidado para subir ao quarto. Eles estariam se comunicando com ajuda de um tradutor.
Ao entrar no quarto, ele disse que praticaram sexo sem o uso de preservativo por cerca de dez minutos. Em seguida, ele deixou o quarto e retornou ao posto de trabalho.
O que diz o hotel
“Os escritórios Vicente Monteiro Advogados e Fabra Siqueira, Carceles & Boechat Advogados, representando a rede hoteleira, esclarecem que o processo em questão tramita sob segredo de justiça.
A rede hoteleira sempre tem como prioridade o bem-estar e a segurança de seus hóspedes, colaboradores e parceiros e não compactua nem compactuará com qualquer conduta imprópria eventualmente praticada nos seus empreendimentos.
Está à disposição das autoridades e colabora integralmente com qualquer apuração ou investigação, reiterando o seu compromisso com a ética e respeito às leis.”
*O nome da vítima foi alterado para preservar sua identidade
